Comunidade internacional se mobiliza desde que estrela do tênis da China acusou ex-vice-premiê do país de agressão sexual, foi censurada e ficou semanas desaparecida. Jornal chinês publica vídeo de tenista que estava desaparecida após acusar autoridade de abuso sexutal
A Associação de Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês) afirmou nesta segunda-feira (22) que a videochamada de Peng Shuai, estrela tênis da China, com o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, não é o suficiente e não aborda ou alivia a preocupação com o bem-estar da tenista.
O paradeiro de Peng Shuai tornou-se um assunto de preocupação internacional depois que a estrela do tênis da China acusou o ex-vice-premiê Zhang Gaoli de agressão sexual, foi logo censurada e ficou semanas desaparecida.
A WTA ameaçou deixar de organizar torneios na China se a jogadora continuasse desaparecida, e a ONU e a Anistia Internacional se juntaram à comunidade de tênis para pedir ao governo chinês que apresentasse provas sobre o paradeiro da tenista e seu estado de saúde.
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Peng tem 35 anos e é ex-número um do mundo em duplas e uma estrela do tênis na China. Ela participou de três Olimpíadas e já foi campeã em Wimbledon em 2013 e em Roland Garros em 2014 (dois dos quatros torneios de tênis mais importantes do mundo).
Diante da pressão internacional, fotos e vídeos de Peng Shuai começaram a ser divulgadas no sábado (20). Nas imagens divulgadas por jornalistas da mídia estatal chinesa e por organizadores de um torneio de tênis infantil em Pequim, ela aparece em casa, em um jantar com amigos e dando autógrafos.
Peng Shuai assina bolas de tênis em um torneio de tênis juvenil em Pequim, em imagem divulgada em 21 de novembro de 2021 no Twitter
Reprodução/Twitter
A intervenção do COI
Mas elas não foram suficientes para diminuir as preocupações com a atleta, e no domingo (21) a tenista participou da videochamada com o presidente do COI.
Thomas Bach entrou no imbróglio porque a China será a sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, que ocorrerão em fevereiro na capital Pequim, e já há quem defenda o boicote ao torneio (veja mais abaixo).
“Foi bom ver Peng Shuai em vídeos recentes, mas eles não aliviam ou tratam da preocupação da WTA sobre seu bem-estar e a capacidade de se comunicar sem censura ou coerção”, disse uma porta-voz da WTA por e-mail.
Questionada sobre a videochamada de Peng com Bach, a porta-voz disse: “Este vídeo não muda nosso apelo por uma investigação completa, justa e transparente, sem censura, sobre sua alegação de agressão sexual, que é a questão que deu origem à nossa preocupação inicial”.
O COI disse em um comunicado que Peng participou de uma videochamada de 30 minutos com Bach, durante a qual disse que estava “segura e bem” em casa, em Pequim, e queria que sua privacidade fosse respeitada por enquanto.
A tenista chinesa Peng Shuai conversa por videochamada com o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach
Greg Martin/COI
Boicote às Olimpíadas
Parte da comunidade internacional tem defendido um boicote às Olimpíadas de Inverno de Pequim, devido ao histórico de direitos humanos da China, e o movimento ganhou força com o caso de Peng.
Hu Xijin, editor do jornal estatal “Global Times”, que nos últimos dias postou fotos e vídeos da tenista, disse no Twitter nesta segunda que sua aparição deve ser suficiente para aliviar as preocupações “daqueles que realmente se preocupam com a segurança de Peng Shuai”.
“Mas, para aqueles que desejam atacar o sistema da China e boicotar as Olimpíadas de Inverno de Pequim, os fatos, não importa quantos, não funcionam para eles”, afirmou Hu.
Agressão sexual e censura
Em 2 de novembro, Peng Shuai escreveu na rede social Weibo (o Twitter chinês) que Zhang Gaoli, vice-premiê da China entre 2013 e 2018, a havia forçado a fazer sexo, apesar de suas repetidas recusas, e mais tarde eles tiveram um relacionamento consensual intermitente.
Zhang é casado e 40 anos mais velho que Peng.
A então diretora do FMI, Christine Lagarde. aplaude discurso do então vice-premiê chinês, Zhang Gaoli, na abertura do Fórum de Desenvolvimento da China, em 2015
Jason Lee/Reuters
A publicação foi excluída do Weibo cerca de meia hora depois e todas as menções ao caso desapareceram da internet e dos mecanismos de buscas.
O Twitter e outras redes sociais “ocidentais” como o Facebook e o Instagram são bloqueados na China, e o desaparecimento de informações que desagradam ao governo é recorrente no país.
Nem Zhang nem o governo chinês comentaram a declaração de Peng até agora.
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